No ano passado, avistámos um golfinho-comum com um cabo enrolado no pedúnculo.
6 meses depois, encontrámos um animal com o mesmo tipo de cabo amarrado da mesma maneira. Após terem comparado fotografias da barbatana dorsal de cada animal, os nossos investigadores concluíram que o indivíduo que avistaram nas duas vezes é o mesmo animal.
Surpreendentemente, o golfinho ainda está vivo! Infelizmente, o cabo ainda continua amarrado no seu pedúnculo.
- O que aconteceu?
A nossa teoria é que o golfinho foi vítima de captura acidental.
A captura acidental ocorre quando animais que não as espécies-alvo dessa pesca são capturados acidentalmente em cabos, redes ou outros equipamentos de pesca.
A captura acidental é especialmente perigosa para animais que utilizam respiração pulmonar, incluindo mamíferos marinhos, aves marinhas e tartarugas marinhas. Na pior das hipóteses, estes animais não conseguem vir à superfície e/ou são arrastados por um barco, e muitos acabam por morrer de asfixia. Se o animal sobreviver, muitas vezes é lançado de volta ao mar, permanecendo com consequências deste incidente, como no caso que observámos.
- Quais são as consequências?
Durante pelo menos 6 longos meses, este golfinho teve de viver com este cabo, que pode ter causado lesões superficiais, perturbações na alimentação e diminuição da sua capacidade de se mover. Também pode ter causado problemas em acompanhar o resto do grupo, pois precisaria de gastar mais energia para nadar à mesma velocidade e, por isso, não ter a mesma constância que os outros. Isto pode levar ao abandono de grupo. Até agora, a boa notícia é que o golfinho não estava sozinho, estava com outros 4 indivíduos.
Lesões de longo prazo causadas pelo cabo, ou por detritos acumulados no cabo, podem causar ferimentos fatais. No nosso caso, o cabo pode restringir a circulação sanguínea pela causa, o que pode resultar na sua perda. Felizmente, até agora, não observámos sinais que isso esteja a cometer a este indivíduo.
O trauma desta situação também pode afetar a reprodução do indivíduo, o que resulta no decréscimo dos níveis da população da espécie. De facto, a captura acidental é considerada uma das maiores ameaças para os cetáceos em todo o mundo. Logo, é um dos maiores desafios para a conservação destas espécies.
- Existem soluções para evitar esses incidentes?
A importância da recolha de dados
É necessário obter certos dados (números, espécies, tamanho, coordenadas GPS, quantidade de capturas acidentais devolvidas ao mar…) sobre os cetáceos e outros animais marinhos presos nas redes de pesca, para conhecer, compreender e gerir este problema.
Estes dados serão usados para determinar o impacto da pesca nas populações de espécies marinhas não-alvo. Também ajudará a melhorar os métodos de pesca para reduzir as capturas acidentais e identificar áreas onde estas possam acontecer em maior número.
Investir em práticas inteligentes de pesca
Um método de pesca inteligente que tem vindo a ser usado já há vários anos: um dispositivo de áudio que ajuda a reduzir a captura acidental. O objetivo é equipar mais embarcações pesqueiras com esta ferramenta.
Este dispositivo, geralmente colocado em redes de pesca, emite um som que desencoraja os mamíferos marinhos de se aproximarem do barco.
No entanto, o dispositivo não é 100% eficaz e relatórios mostram que alguns animais se familiarizaram com o som e começaram a ignorá-lo.
- O que pode fazer se se encontrar nessa situação?
O primeiro instinto será o de resgatar o animal por conta própria, mas isso pode ser muito mais complicado do que parece… Resgatar o animal pode colocar a pessoa em perigo, se esta não tiver tido treino adequado. Cetáceos são animais selvagens de grande porte com comportamentos imprevisíveis, especialmente nesta situação, o que pode colocar o animal em perigo e em stress.
Aqui está a nossa recomendação:
- Primeiro, entre em contato com a guarda costeira para informá-los da situação, providenciando a informação recolhida;
- Tome nota das coordenadas do GPS, se possível;
- Recolha imagens, fotografias ou vídeos do animal, de forma a identificar a espécie e ajudar a guarda costeira e entidades profissionais na sua intervenção.